O universo da moda é pautado pelas tendências e novidades do momento, e isso faz com que esse mercado se seja um dos mais poluentes do mundo.

A sua lógica de superprodução impacta diretamente o planeta através do uso exagerado de recursos não renováveis e acúmulo de resíduos.

Segundo o Overproduction, Taboo in Fashion, 30% das roupas que são produzidas nunca serão comercializadas de verdade e um terço desse total só é vendido a partir de descontos. Outro dado da Printful, empresa de impressão on demand, indica que 1 em cada 5 peças de roupas produzidas são descartadas sem nunca terem sido usadas nem ao menos uma vez.

Além disso, o setor da moda é responsável por 8% de todo o gás carbônico presente na atmosfera, perdendo apenas para o setor petrolífero. Por exemplo, só o poliéster, uma das fibras mais utilizadas para a produção de roupas, é responsável pela emissão de 32 das 57 milhões de toneladas globais por ano.

Pensando agora no consumo desses itens, a moda também causa desperdício, principalmente quando falamos sobre o conceito de Fast Fashion, responsável pela perda global de US$460 bilhões anualmente, uma vez que as pessoas se desfazem de suas roupas ao invés de continuarem utilizando-as.

De acordo com a revista Forbes, as peças de Fast Fashion são utilizadas em médias apenas 5 vezes antes de serem descartadas, gerando 400% mais emissões de carbono do que uma roupa que pertence a uma marca de Slow Fashion, a qual é utilizada em média cinquenta vezes antes do seu descarte.

Porém, de acordo com uma nova versão do estudo State of Fashion, que analisa e propõe tendências para o mercado da moda, desenvolvido pela revista inglesa Business of Fashion e pela empresa de consultoria McKinsey & Company, o cenário que estamos vivendo hoje é de transformação, em que a indústria precisa avaliar com mais atenção as soluções digitais e ter mais resiliência para repensar a sua relação com o meio ambiente e com a sustentabilidade.

Oskar Metsavaht, fundador da Osklen e um dos embaixadores da Unesco para Sustentabilidade, disse durante o painel “As Boas Práticas para a Moda Sustentável” do Summit ESG 2021, que a moda tem dois vetores de protagonismo na mudança para o desenvolvimento sustentável. O primeiro é evoluir nas próprias práticas e na produção de seus produtos. E o segundo é ser a protagonista na transformação do comportamento social. Segundo Oskar, tanto quanto o cinema, a literatura e as artes, a moda é uma das protagonistas da cultura.

Com isso, diferentes startups e investidores estão surgindo e apostando em uma moda mais sustentável, focando em reaproveitar o que é mais antigo, através da customização e da restauração.

O mundo dos concertos e das restaurações está chamando cada vez mais a atenção dos consumidores que se preocupam e se interessam por pautas de sustentabilidade e do meio ambiente.

Nesse universo, surgiram plataformas digitais focadas em ajudar marcas e consumidores a customizar ou reparar roupas antigas, o que em 2022 já movimentou milhões de dólares em investimentos.

Esse movimento está afetando até mesmo as marcas mais tradicionais do mercado, uma vez que, percebendo a importância dessa pauta e da mudança na percepção dos clientes, algumas marcas de luxo já passaram a oferecer concertos como parte de seus serviços.

A Uniqlo, por exemplo, é uma marca que lançou o serviço de customização e reparo em suas lojas de Londres e Nova York. Já a Coach criou o programa de treinamento focado em restauração de couro, a fim de aumentar a vida útil de seus produtos e evitar que eles sejam descartados, aumentando o lixo do nosso planeta.

Porém, toda essa mudança gera novos desafios, pois serviços de customização e concertos precisam de uma logística e infraestrutura minuciosa e mão-de-obra super especializada, o que gera uma demora na implementação.

Mas não podemos perder as esperanças em um mundo melhor, e com certeza, já estamos caminhando por uma mudança de mindset, principalmente advinda das novas gerações.