Nova Era do Iluminismo na Moda
21 DE AGOSTO DE 2023Uma tendência do século XVIII voltou a aparecer na primavera de 2023, no hemisfério norte!
Este acessório, zero funcional para os dias de hoje, com certeza não foi mapeado por quase ninguém, mas voltou a marcar presença este ano. Estamos falando dos saiote de armação crinolina, ou anáguas argoladas sob os quadris.
Dentre as marcas que apresentaram a peça em seus desfiles, temos Loewe, Dior, Del Core, Elena Velez, e Matty Bovan.
Ele é muito associado a Maria Antonieta pré-revolução, e designers como Jean Paul Gaultier e Sarah Burton já utilizaram essa anágua para representar o tema ao longo das últimas décadas.
Por isso, para Valerie Steele, diretora e curadora-chefe do Museu do Fashion Institute of Technology, a tendência não representa um retorno direto ao século XVIII, mas sim uma referência a designers mais modernos que já trabalharam esse tema, como Vivienne Westwood, Alexander McQueen e Christian Lacroix.
Segundo a historiadora de moda e escritora do livro “Skirts: Fashioning Modern Famininity in the 20th Century”, Kimberly Chrisman-Campbell, todas essas coleções foram filtradas pelas lentes do historicismo dos anos 1980, como os new romantics, o mini-crini de Westwood e o puff de Lacroix.
Ou seja, tanto os anos 1980, quanto o século XVIII, foram épocas de excesso e maximalismo no vestuário, então faz sentido que eles estejam de volta à medida que saímos da pandemia animados com a moda e com o vestir novamente.
Chrisman-Campbell ainda reforça: "Uma saia maior, significava mais tecido e, portanto, mais dinheiro e poder. Uma subestrutura rígida, como um saiote de armação crinolina ou farthingale, sustentava e mostrava todo aquele tecido de forma mais eficaz e confortável do que camadas de anáguas."
Por mais pesada que essa estrutura fosse, ela era contraintuitivamente sinônimo de liberdade, ou pelo menos ameaçava a ordem social. Uma vez que, homens a questionavam por não considerarem ela natural a silhueta do corpo feminino, usando linguagem e argumentos muito semelhante às críticas que, alguns anos depois, surgiram aos espartilhos, sutiãs de bojo, Spanx e até mesmo à cirurgia plástica.
"As pessoas supõem que as mulheres no passado foram [completamente] vítimas do patriarcado", diz Steele. "Mas, embora a sociedade patriarcal fosse muito poderosa, e as mulheres tivessem muito poucos direitos legais ou socioeconômicos, muito menos políticos, no entanto, na apresentação de seu corpo, as mulheres tinham uma palavra a dizer. E uma das maneiras que elas disseram: 'Eu sou uma pessoa importante, leve em conta comigo', foi por meio de sua auto apresentação."
É muito improvável que vejamos os saiotes de armação crinolina voltarem para fora das passarelas, porém a ideia de mulheres que ocupam espaços continua sendo provocativa, mesmo quatro séculos depois.
"No passado, roupas extravagantes eram uma maneira de mulheres que tinham dinheiro, mas sem voz real na sociedade, se fazerem ver e ouvir", diz Chrisman-Campbell. "Hoje, a moda é comparativamente acessível, e muito mais mulheres são independentes financeiramente, com meios para participar da moda. Mas, ao mesmo tempo, estão sendo silenciadas ou negligenciadas em outras áreas. É difícil ignorar alguém que está ocupando espaço físico, e a moda é uma maneira eficaz de fazer isso, acabamos de ver um grande exemplo disso com Tems no Oscar".
Para Steele, essa tendência é menos um fato social e mais um balanço sazonal. Segundo ela: "Se na temporada passada você estava enfatizando o corpo nu, e se nesta temporada você está enfatizando o corpo que está ocupando espaço, bem, em ambos os casos, você está enfatizando os corpos", conclui, "que é praticamente o que a moda é".
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